30.6.09

entre hitler e göbbles.

No início do século, em uma época que a mulher ainda era extremamente reprimida, Leni Riefenstahl queria ser dançarina. Depois foi atriz, e também foi cineasta. Não aprenderia a cozinhar, costurar, cuidar dos filhos ou do marido. Teria muitos amantes. E seria a maior responsável pela propaganda nazista durante a segunda guerra.



Acredito que muitas pessoas condenam a Leni e pouco conseguem discutir sobre os reais motivos dela, a intenção, e especialmente o contexto em que ela estava inserida. Existem milhares de motivos para uma mulher que quer ser cineasta nos anos 1930 aceitar fazer documentários para um partido como o NSDAP.

Para alguns, ela deve ter tido algum romance com o Hitler ou com o Göbbles, seu Ministro da Propaganda, especialmente pelas declarações contraditórias dos dois e desentendimentos com ela que vieram à público.

Ela pode ter sido ingênua, acreditando que os ideais de Hitler eram corretos e que faziam sentido. Neste caso, não podemos dizer que ela foi perversa, porque estava incapacitada de discernir. Mas pode ter sido interesseira, usando a temática proposta pelo partido para viabilizar financeiramente seus filmes como nunca poderia ter financiado sem a ajuda deles. Ou pode ter sido artista, se concentrando apenas na beleza plástica da obra, e não no seu cunho e seus efeitos políticos e sociais.

Para dificultar, tem uma frase dela que me faz acreditar em qualquer uma das hipóteses acima: "Nos meus filmes, não busco heróis. Quero modelos".

Leni tem dois filmes bem importantes. Um deles é Triumph des Willens, traduzido para O Triunfo da Vontade, que é um documentário sobre o congresso do partido nazista que aconteceu em 1934, em Nuremberg. Eu não sei como descrever o que esse filme mostra sobre a lealdade do povo em relação ao Hitler, com a perfeição das imagens dos membros do partido como soldados, a música clássica e as narrações do próprio ditador. Está disponível no youtube, com legendas em inglês.



A outra das obras dela que merece destaque é o Olympia, especialmente mais interessante, porque documenta os jogos olímpicos que aconteceram na Alemanha em 1936, deixando mais dúvida sobre o que Riefenstahl buscava e pretendia com seus filmes. Olympia trata o Jesse Owens, atleta afro-americano que ganhou quatro medalhas nesta ocasião, aparentemente da mesma forma como trataria qualquer outro atleta ariano com o mesmo desempenho. Além de dar início a muitas técnicas usadas até hoje na cobertura de eventos esportivos, o filme mostra o culto do corpo e a busca pela perfeição de uma maneira atual, e é uma referência para discussões sobre o tema.





Muito depois depois do final da guerra, por volta dos anos 1970, Leni vai para África fotografar os Nubas, o que rendeu muitas exposições, além de um livro.



Também aprendeu a mergulhar e em 2002 fez um documentário com imagens de mais de setenta mergulhos. Ela tinha quase um século de vida e mergulhava para filmar o mundo subaquático!



Pesquisando sobre as notícias de sua morte, encontrei coisas absurdas, manchetes sensacionalistas, críticas gratuitas e com muito preconceito. Espero ter despertado o interesse por esta mulher fantástica, e queria que todos pudessem vê-la de uma forma um pouco mais humana, menos preconceituosa, e com o mínimo de respeito que ela merece enquanto artista, independente de sua orientação política, que nem é conhecida ao certo.

Leni morreu dormindo em sua casa, em 2003, aos 101 anos de idade.

28.6.09

pela arte.

Foi nesta sexta-feira o coquetel de abertura de mais um dos projetos super bacanas que ocorrem na Usina do Gasômetro. O Riso e a Melancolia acontece simultaneamente nas Galerias Iberê Camargo e Lunara e também com uma mostra de filmes na Sala P.F. Gastal, no Gasômetro, e vai do dia 23 de junho ao dia 26 de julho.



Na Galeria Iberê Camargo, estão expostos trabalhos em vídeo e fotografia assinados por nomes como Yves Klein, Thomas Hoepker, Terrence Koh, Martín Sastre, Guto Lacaz, Kátia Prates e Yoshua Okon. A Galeria Lunara está dedicada exclusivamente ao vídeo artista norte-americano Paul McCarthy. Já na sala P.F Gastal estão em exibição filmes como Os Palhaços, de Federico Fellini, Poucas e Boas, de Woody Allen, O que eu fiz para merecer isto?, de Pedro Almodóvar, entre outros.

Nessa quinta eu fui assistir ao inédito A Ciência do Sono, do bombado Michel Gondry. O filme é sensacionalmente lindo, divertido e claro, com uma pitada de melancolia. Pra quem não sabe, o elenco é protagonizado por Gael García Bernal e pela musa, que eu mais queria ser no mundo, Charlotte Gainsburg. Além de ser muito humano, como um bom filme francês, A Ciência do Sono nos proporciona boas gargalhadas e nos deixa com muitas ganas de criar, executar projetos manuais. Muito fofo!



Coloco aqui também uma parte do texto, muito bem escrito pelos curadores Bernardo de Souza e Mariana Xavier, que apresenta o projeto:

"Variantes de um amplo espectro emocional, o riso e a melancolia respondem por estados de espírito e de ânimo aparentemente opostos, porém complementares. Não obstante as diferentes acepções destes termos no curso da História, eles permanecem tão emblemáticos quanto reveladores da experiência humana.

Considerada uma doença na Grécia Antiga, a melancolia deixou de ser uma moléstia no período romântico, quando se difundiu a ideia de que os indivíduos por ela afetados estariam a experimentar algo de profundamente enriquecedor para a alma humana.

Desde o século XX, entretanto, mais precisamente a partir das teorizações de Sigmund Freud, a melancolia foi comparada ao estado de luto, sem que, contudo, fosse constatada nela uma perda real, senão uma perda narcisista ou emocional.

O riso, por seu turno, consiste na expressão física motivada por diferentes naturezas de humor, tais quais a sátira ou a ironia, que estão intimamente relacionadas ao contexto sóciocultural de onde emergem e que as enseja. Quer na filosofia, quer na psicologia, o riso se estabelece como reação aos estímulos de ordem intelectual, configurando-se em um fenômeno fundamentalmente humano.

De acordo com o filósofo francês Henri Bergson, caso o mundo fosse habitado por seres totalmente desprovidos de emoções, e exclusivamente movidos pela racionalidade, ainda assim haveria o riso, porque resultante de um processo mental que decorre de julgamentos morais. De maneira inversa, em um mundo dominado exclusivamente pelas emoções, o riso não seria possível, e o excesso de sentimentos nos envolveria numa atmosfera puramente melancólica."

Bacana, né?!

O texto e mais informações, como o calendário de filmes, podem ser conferidos na íntegra no blog da sala de cinema P.F. Gastal. Lá também dá pra ver todo o arquivo de projetos realizados ao longo de 2008 e 2009. A sala sempre exibe filmes muito legais. Entretanto, é difícil encontrá-la lotada e, em geral, quem frequenta são sempre as mesmas pessoas. Além dos filmes raros que exibe, como por exemplo o documentário feito por Wim Wenders com Yoji Yamamoto, mostra também clássicos como Acossado, de Jean-Luc Godard. Não sei se é por falta de divulgação, preguiça do público (que adora reclamar que não acontece nada em Porto Alegre), grade de horários... Mas a falta de apreciação já ganhou até matéria na Zero Hora. Por isso fiz questão de postar e incentivar.

Vamos lá, juventude!

22.6.09

política para os olhos.

Vivemos o momento da imagem e eu, como qualquer outro ser humano dessa geração, também as adoro. Não sou muito atenta a créditos, nem nomes de fotógrafos, sei só o basicão da moda mas nada de muito profundo. Provavelmente por isso, não tinha dado a devida atenção a David LaChappelle, que dispensa apresentações.



O engraçado é que as duas oportunidades que tive de estar mais próxima do trabalho dele, não foram através de revistas ou internet, e sim, cinema e televisão.

A primeira foi na mostra Beleza Imperfeita - Em busca de uma nova estética, onde assisti o documentário Rize, de 2005, primeiro longa dirigido por LaChapelle. O filme fala sobre a explosão da dança de rua em bairros pobres de Los Angeles.

A segunda foi no GNT, que em homenagem as semanas de moda está exibindo vários documentários com grandes personas do mundo fashion. Um deles é David LaChapelle - Olhos Mágicos, que assisti nesta quinta-feira. O filme mostra o processo criativo do fotógrafo, bastidores e alguns estudiosos sobre o assunto. LaChapelle usa de super produções (e te falo em super) para contar a história dos excluídos, porém de um forma linda, instigante, bizarra e não com piedade. Isso é o mais incrível. Por que protestar feio se a gente pode usar da beleza para isso?! E ele faz como se estivesse em uma grande brincadeira com o imaginário coletivo e o resultado é o seu surrealismo pop e atemporal.

Eu que nem sabia que ele começou com Andy Warhol, busquei um pouco mais de informações e descobri que uma das grandes fontes de inspiração para ele foi a sua infância. Sua mãe Helga produzia roupas, acessórios e cenários das fotos da família, a ponto de posarem em frente de carros e casas alheias. Com ela, LaChapelle aprendeu a enxergar a beleza na cultura trash americana e descobriu que direção de arte e produção fazem a fotografia.

Outra coisa que eu também não sabia é que o clipe It's My Life, do No Doubt (que todos nós amamos) também é de direção dele. Além dos também ótimos Dirty, da Christina Aguilera, e I'm Glad, da Jennifer Lopez.

Eu queria ter encontrado o trailer de Olhos Mágicos, ou própio documentário mesmo, para baixar e assistir novamente. Mas a única informação que encontrei foi a programação do GNT. Se alguém souber, me avise, please.

Este é o trailer de Rize:



Eu ADORO documentários, por isso recomendo, mesmo sem ter visto ainda, o Iconoclastas - Stella McCartney e Ed Rutscha, o último dessa programação especial do GNT, que vai ao ar hoje, dia 22/jun, às 21h05.

17.6.09

música para os ouvidos.

Beirut no Brasil?

Pois é, foi confirmado que a banda liderada pelo jovem Zach Condon fará show no Auditório Iburapuera em São Paulo. Não consegui encontrar nenhuma informação sobre como vai ser a venda dos ingressos. Tenho que ser rápida, muito rápida, pois a casa tem capacidade para apenas 800 pessoas.



O cabeça da banda tem 23 anos, nasceu em Santa Fé, nos Estados Unidos. O som é uma mistura de vários ritmos e instrumentos, como folk e música do Leste Europeu, deliciosamente executados por violinos, instrumentos de sopro, acordeon e ukelele, que é tipo um violão menor, lembra o cavaquinho. Zach compõe todas as músicas, inclusive a melodia e os ritmos.

Li em uma entrevista que ele fez aula de português no colégio, pois sempre quis cantar em português. Ele anda tocando Leãozinho do Caetano Veloso em seus shows. Hoje estávamos olhando um vídeo da Blogotheque da música Nantes, que é lindo. E no finalzinho ele dá uma arranhadinha de "Baby" dos Mutantes. Contou na mesma entrevista que conhece e gosta da Tropicália há algum tempo.



O segundo disco da banda, The Flying Club Cup, fez parte da minha trilha sonora fixa em todo o verão. Os vídeos são incríveis e as músicas apesar de um pouco melancólicas, me agradam muito. Adoro a mistura de instrumentos e ritmos, o som do ukelele, do violino. Tudo se encaixa com uma harmonia perfeita, fazendo bem para os nossos ouvidos e não ficando naquela mesmice de bateria, guitarra e baixo.

Beirut tocará também na Bahia e no Rio de Janeiro. Espero poder comprar o meu pela internet. Se alguém souber de algo, passa a dica.

15.6.09

nicest kids in town.

Sei que grande parte das pessoas não gosta de musicais, acha cafona, exagerado, e, o que geralmente é verdade, um produto cultural de massa. Eu acho os musicais incríveis; adoro o exagero, o brega e o retrato da vida de alguém ou de um grupo de pessoas como um show espetacular.
(Poderia dizer que essas peças de teatro ou filmes são irônicos em relação ao que vivemos hoje, a espetacularização da vida, mas para isso, precisaria de um texto longo demais, que não é a intenção aqui.)



Hoje eu estava assistindo alguns vídeos de musicais no trabalho, e todo mundo começou a ver também, lembrar de algumas cenas, de Noviça Rebelde, Cantando na Chuva, etc, e eu percebi que todas variadas manifestações tinham o mesmo discurso: "Não gosto de musicais, mas tem uma cena do (insira qualquer título aqui)que é ótima!".

Aí começam a mandar links por e-mail, e "vocês precisam ver esse", não se trabalha mais, aquela coisa. Ninguém gostava, mas foi o assunto e a diversão de todos por um bom tempo.



Para mim, serviu para encontrar várias coisas legais do Hairspray. A história é um pouco cansativa, tem algumas músicas bem chatas, mas tem uma que eu amo, e que dá título a esse post: Nicest Kids In Town. E foi justamente desta que eu encontrei um vídeo de making of, com os ensaios. É genial, assistam:



Também me diverti muito comparando vídeos das duas versões do filme e de algumas do teatro. Ao contrário de muitos outros musicais, esse surgiu como filme, em 1988, escrito e dirigido por John Waters, virou peça de teatro em 2002 e foi refilmado em 2007 na sua versão mais conhecida, com John Travolta, Zac Efron, Michelle Pfeiffer e Queen Latifah.

É só buscar por Hairspray no YouTube e se divertir com as diferentes construções de personagens, figurino, cenários e todas as formas e diferenças entre o retrato dos 60s em 1988 e em 2007, no cinema, e a adaptação de tudo isso para o teatro.

13.6.09

dolls talk.

Sabe aquela sensação que tinhamos ao ganhar um brinquedo novo? Pois é, foi isso que eu senti quando descobri o Looklet, um site feito basicamente para montar looks. Ele oferece 7 modelos, 22 fundos e muitas roupas para ficar brincando de combinar. O legal é que tem blusas, calças, vestidos, casacos, bolsas, sapatos, lingerie, acessórios, ou seja, tudo o que quiser (até anágua tem!).



Claro que tem várias coisas de coleções antigas e muito mais opções da Top Shop do que da Stella McCartney, por exemplo. Mas dá pra se divertir muito, ainda assim. Além disso é útil pra ter uma noção de produção de moda. Proporção, cores, texturas; quase uma brincadeira educativa. Esses dias até usei para montar uma referência para um trabalho, que não encontrei pronta.



Me lembrou aquelas bonequinhas de papel que vinham com roupinhas pra gente vestir dobrando atrás. Era um brinquedo super simples mas sei lá porque me encantava horrores. Inclusive, já falei com várias meninas sobre essas bonequinhas e a resposta positiva é unânime (se você tem menos de 25 anos é bem possível que não saiba de que boneca estou falando, pois quando eu brincava já era meio ultrapassado). Acho que mais pela coisa de colar a roupa por cima, talvez foi isso que me lembrou. Nostalgia querida.

Também acho útil para experimentar combinações que temos vergonha de sair por aí vestindo, por nao saber com o que usar ou por vergonha mesmo, como chapéus. Vai que o treino te deixa mais ousada. Haha. Já valeu a brincadeira.

11.6.09

make up for life.

Há mais ou menos 2 anos deixei de lado 3 anos de faculdade de direito para mergulhar no universo da produção. Sempre fui apaixonada por maquiagem e uns amigos aprovaram um programa de televisão aqui em Porto Alegre, então comecei a trabalhar pra eles. Fui aprendendo conforme as necessidades, pesquisando e lendo sempre. Um ano depois, saí do programa e fui pro lado publicitário.

Hoje trabalho para algumas pessoas e produtoras e tenho como mestra-mor Aline Matias que me ensina tudo, tanto sobre produtos quanto sobre técnicas e macetes para facilitar o trabalho. Quem conhece o case da Aline sabe como é difícil trabalhar com outro, tem de tudo, desde orelhas, perucas, uma infinidade de cílios postiços e produtos incríveis. Todas as cores de face and body foundation da MAC; no mínimo uns 200 pincéis de todos os tamanhos, cores e marcas.

No final do ano passado a Zeppelin aprovou uma campanha de Natal das lojas Riachuelo, na qual teríamos que colar orelhas de Elfo em 16 modelos. Então tive o primeiro contato com as maquiagens Kryolan e Graftobian.

A Aline optou por pontas de orelhas prontas de latex, massa pele para igualar, bastante selador e corretivos para chegar ao tom exato da pele da pessoa. Seria impossível sem a palete Kryolan, que tem todas as cores imagináveis para conseguir a cor e textura certa, pois a coloração da nossa orelha é diferente do rosto e resto do corpo, é geralmente mais avermelhada.



Esse foi o resultado do trabalho.

Bom, desde o dia em que usei a palete da Kryolan nunca mais esqueci. Aquelas 24 cores lindas ficavam na minha cabeça, precisava ter uma dessas. Aqui no Brasil, temos duas lojas, uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro; em Porto Alegre, como já era de se esperar, só conseguimos com representantes da marca. Essa semana estive pesquisando bastante sobre preços e sites que enviam os produtos para o Brasil.

E a minha surpresa: um site holandês que entrega no Brasil. Por uma balela de 45 euros + frete consegui a minha tão sonhada palete de corretivos Kryolan. Tudo por mais ou menos R$150! O que aqui, me custaria praticamente R$700. Incrível!

A única coisa ruim: demora de 2 a 8 semanas para chegar. Já estou com o meu calendário pronto, fazendo a contagem regressiva e esperando pagar esse e pedir otras cositas más. O site é ótimo e vende quase todos os produtos da marca.



Optei pelo Supracolor Greasepaint Palette 24 Shades, que me dá uma ótima gama de cores, além dos tons de pele, ainda tenho algumas outras lindas. Agora é só esperar ansiosamente pelo meu novo brinquedinho.